NICAR #1

Data de Publicação

2 de março de 2025

Data de Modificação

2 de março de 2025

Aquecimento para o Lollapalloza do DDJ

Fui contemplada com um fellowship para participar do NICAR 2025 (National Institute for Computer-Assisted Reporting), a principal conferência mundial sobre jornalismo de dados, organizada pelo IRE (Investigative Reporters and Editors). O evento acontecerá entre 6 e 9 de março em Minneapolis, Minnesota (EUA).

Como se já não fosse alegria o suficiente, também fui convidada para palestrar! Recebi uma mensagem dias antes do resultado do fellowship sondando se eu estaria presente no NICAR e me convidando para um painel. Topei, mesmo sem ter certeza de que conseguiria ir (ok, um pouco irresponsável da minha parte, considerando que eu não tinha de onde tirar dinheiro para viajar agora).

Painel 1: “Everything Everywhere All at Once: Data from Around the World to Report on Global Issues”

Participarei deste painel ao lado de Helena Bengtsson (Gota Media), Irene Casado Sanchez (Big Local News), Eva Constantaras (Lighthouse Reports) e Andy Lehren (The Center for Collaborative Investigative Journalism | CUNY JSchool). A proposta do painel é discutir os desafios de acessar e utilizar dados globais para reportagens investigativas, abordando temas como barreiras linguísticas, conversões de moeda, formatos inconsistentes e transparência de dados em diferentes países. Também falaremos sobre estratégias para acessar documentos em regiões onde as leis de registros públicos são frágeis ou inexistentes.

Painel 2: “Lessons Learned from Inclusive Collaborations to Inform Global Majority-led Cross-Border Investigations”

Dias depois, recebi um segundo convite para um painel, mediado pela Eva Constantaras. Embora minha experiência com investigações transnacionais seja pontual, tive um excelente treinamento com dois repórteres incríveis (Laura e Rafa, obrigada!), que estiveram envolvidos em projetos recentes como Mercenários Digitais e Redes de Nicotina. No painel, discutiremos como aplicar práticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) para tornar investigações internacionais mais equitativas.

Os painelistas serão: Eva Constantaras (Lighthouse Reports), Mónica Cordero Sancho (Investigate Midwest), William Lager (The Marshall Project) e Jack Sapoch (Lighthouse Reports).

Lightning Talk: “Uncovering the Past: Investigando a Elite Brasileira e a Escravidão Histórica”

Como eu queria pedir música no Fantástico (toca a trilha da Praça é Nossa), também submeti uma Lightning Talk, uma apresentação relâmpago de cinco minutos sobre um tema de jornalismo de dados. E fui selecionada!

Minha apresentação se chama “Uncovering the Past: Lessons learned when investigating files about Brazil’s Elite and Historical Slavery” e falarei sobre a investigação do Projeto Escravizadores, que analisa os vínculos da elite brasileira com a escravidão. Vou compartilhar estratégias para estruturar dados históricos e genealógicos desorganizados, superar barreiras de acesso a arquivos e interpretar documentos antigos.

Sobre a bolsa

Me inscrevi para o processo unificado de bolsas do IRE e fui selecionada para uma Diversity Fellowship, financiada pelo Philip L. Graham Fund, Diversity Development Fund do IRE e doadores individuais. De acordo com o IRE, o objetivo da fellowship é aumentar a diversidade dos membros do IRE e da comunidade de jornalismo investigativo.

O que a bolsa cobre:

✅ Um ano de associação ao IRE (até US$ 75)

✅ Inscrição gratuita no NICAR25 (até US$ 350)

✅ Quatro diárias de hotel (US$ 956)

✅ Auxílio para transporte (US$ 500)

Apesar de ser um grande apoio financeiro, não cobre tudo. Precisei complementar os custos com a taxa de visto, autorização eletrônica para o Canadá, passagem aérea (mais de R$ 9 mil ida e volta), alimentação e seguro-viagem. E, como sabemos, o dólar está alto.

Nota

Nesse momento talvez você esteja se perguntando: “Bi, você vai falar três vezes no evento, se inscreveu pra bolsa e não planejou?” NÃO É BEM ASSIM.

O NICAR sempre foi meu evento dos sonhos. Eu costumo baixar todos os slides, tipsheets, seguir os palestrantes sem ao menos ter pisado no evento. Desde que eu conheci, tentei a bolsa quatro vezes. Dessa vez eu caprichei na minha inscrição e pensava “é agora, ou nunca”. O “agora” venceu, rs, mas num timing meio complicado financeiramente.

Vaquinha e apoio da comunidade

Seguindo a dica de amigos, criei uma vaquinha para cobrir parte dos custos. A partir daqui vai parecer uma prestação de contas e sei que ninguém está me cobrando isso, ninguém questionou o uso do dinheiro, mas acho importante repassar.

Minha meta era R$ 5.500 e, até agora, cheguei a 96% do valor. Com esse dinheiro, consegui comprar minha passagem de volta para o Brasil (ufa). Além disso, recebi apoio da empresa onde trabalho para ajudar com outros gastos da viagem e isso é de um valor enorme pra mim. Obrigada mesmo por comprarem essa ideia e acreditarem em mim.

Tudo isso—a bolsa, o apoio da firma e as contribuições incríveis da comunidade—está tornando meu sonho realidade (sim eu realmente tinha como sonho participar de uma conferência de jornalismo de dados).

Sei que, em algum momento, fingir costume e ser blasé começou a ser considerado cool, mas eu não consigo ser assim. Estou muito emocionada com a bolsa, com o convite para palestrar e com a movimentação de muita gente pra fazer isso rolar. Cinco anos atrás, eu era estagiária de jornalismo de dados na Pública e tava conhecendo uma área nova e que eu nem sabia direito se eu cabia nela. Agora, estou indo para o NICAR, palestrando três vezes pra falar do que aprendi e aprendo todos os dias nesse mundinho doido e dataficado.

Obrigada a todos que me ajudaram a chegar até aqui! 💜 e podem me mandar email pra papear, opinar, sugerir, ou só jogar conversa fora sobre o evento ou sobre crochê (minha ideia fixa no momento).